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Paula Moura - Quando a moda e o ensino se unem

  • Foto do escritor: Rui Paixão
    Rui Paixão
  • 5 de set. de 2022
  • 6 min de leitura
Foi em Évora que Paula Moura viu o seu percurso académico e profissional iniciar. Aqui tem ficado até aos dias de hoje, há mais de 25 anos. Nesta cidade, conseguiu também unir o seu amor pela educação, à sua paixão pela moda. É disso que faz desta docente e empresária, uma mulher de garra, força e bastante trabalho.

Recuamos até 1980 e seguimos até Celorico de Basto, um local bastante familiar para si. Como era a Paula Moura durante a infância e adolescência?

Durante a infância era muito calma e cheia de vontade em ser professora. Já na adolescência a minha mãe diz que eu não tive a mesma, visto que era extremamente bem comportada, mas também traquina na escola. Tinha as minhas responsabilidades que cumpria, mas também brincava com os meus cerca de quarenta primos. Sim somos muitos, visto sermos também uma família do norte.

Durante este período minha mãe ensinou-me a arte de saber costurar, visto que ela era costureira, fazendo com que eu ganhasse essa aptidão para costurar.

Na escola, esforçava-me nas aulas para cumprir os objetivos, visto que até os professores tinham uma grande expetativa relativamente ao meu futuro e por isso, sinto que durante esta fase da infância e adolescência, fui uma aluna exemplar.


A adolescência traz consigo mudanças. Optou por seguir uma licenciatura. Qual foi a sua escolha? Esta já era ponderada há muito tempo? Ou foi escolha de “última hora”?

À medida que fui crescendo, as áreas que mais gostava de lecionar caso entrasse no ensino seriam: as ciências naturais, a história, a geografia e a educação física, dando destaque para a primeira opção.

Celorico de Basto era naquela altura um concelho tipicamente agrícola e com algum atraso económico, levando-me assim a ter de ir estudar para fora. Concorri para a biologia-geologia – vertente de ensino, mas sempre com uma grande indecisão para onde iria estudar. Ao concorrer, a indecisão apareceu na última opção para onde ir estudar: ou para Évora ou para os Açores. As colocações saíram e percebi rapidamente que tinha entrado na minha última opção, Évora.

Paula Moura na sua loja "Be Wild" ©Rui Paixão

E como foi deixar os seus pais a mais de 500 kms? O processo foi fácil ou não?

Foi um processo doloroso para mim, pois naquela altura não tinha a capacidade de falar abertamente com as pessoas. Eu tinha 17 anos quando vim para Évora e senti uma grande diferença, isto porque eu era muito ligada à família e estava sempre muito habituada a fazer tudo com a mesma.

Na altura não havia telemóveis para comunicar, à qual escrevia apenas cartas que ainda hoje a minha mãe guarda. O meu pai decidiu-me vir trazer até Évora, apenas com uma muda de roupa, para durante uma semana cá estar e depois regressar no fim-de-semana para Celorico de Basto. Houve então um descuido da minha parte e estava quase chumbada por faltas, fazendo com que tivesse de ficar por Évora. Nesses dias foi mesmo terrível. Eu tinha de lavar a minha roupa durante a noite para que no dia seguinte tivesse o que vestir, mas ao mesmo tempo chorava imenso pois queria voltar para casa. As coisas começaram a melhorar pois vivia numa residência universitária, onde adorei estar, conseguindo assim, juntamente com as minhas colegas, apaziguar esta saudade que sentia dos meus familiares.

Terminada a licenciatura regressou à sua terra natal ou ficou pelo Alentejo?

Quando terminei a licenciatura ainda regressei a Celorico de Basto. Terminei em 2001 e concorri ao concurso nacional, onde não fiquei colocada. Depois concorri aos mini concursos, onde também não entrei e sou levada com grande vontade, até à zona do Porto, onde trabalhei num centro de explicações. Nesta altura já conhecia o meu marido e decidimos que iríamos casar e deslocarmo-nos para Évora onde temos a nossa moradia, atualmente. Volto a concorrer e não sou colocada. Fazendo um historial rapidamente entrei em Vila Verde, Braga, mas não cheguei a trabalhar devido à minha gravidez de risco. Fiz substituições de vagas, em Alter do Chão. Estive também em Moura, Pinhal Novo, entre muitos outros. Mas também fui encostada à “box” muitas vezes. Isso custou-me, assim como custa a grande parte de professores. Eu terminei a minha licenciatura e tinha idealizado uma vida ligada ao ensino continuamente. Mas lá está, muitas vezes somos obrigados a criar novos caminhos, a fazer novas opções. Cheguei mesmo a lecionar outras áreas de ensino e, infelizmente, a perder um bebé em todo este caminho profissional.


Paula Moura ajuda os seus clientes na escolha da melhor peça de vestuário ©Rui Paixão

A vida por vezes traz-nos surpresas: Sei que há quatro anos rumou novamente até à cidade de Reguengos de Monsaraz para ser docente, mas desta vez em Geografia. Como foi este processo? Existiram dificuldades?

Existiu muita dificuldade. Fui substituir uma colega que estaria de baixa durante apenas um mês, mas que acabou por ser um período letivo. Geografia tem um elo de ligação com a Biologia e os meus amigos sempre me apoiaram em tal decisão, visto que me considero muito versátil. Na altura eu pensava que ia lecionar apenas para alunos de 7ºano de escolaridade mas, para além das turmas desde ano, são me propostas duas turmas de 11ºano. Aqui notei uma clara, evidente e acrescida responsabilidade, pois era ano de exames e eu iria ter um papel determinante na vida destes jovens. Apesar de muito trabalhoso, foi um ano muito prazeroso. Os jovens compreenderam perfeitamente a minha situação e acabaram mesmo por cooperar comigo nesse sentido. Foi portanto um ano desafiante, mas superado, à qual levo no coração todos aqueles jovens.


Turma de 11ºano lecionada por Paula Moura em Reguengos de Monsaraz ©Rui Paixão

Como já referiu há pouco a moda sempre esteve presente na sua vida. Ter este espaço onde nós estamos neste momento foi algo idealizado por si? Como é que surgiu esta ideia?

Eu saí de Reguengos nessa altura e voltei a ficar colocada em Évora, não a tempo inteiro. Quando não tinha tempos para lecionar, acabava por ir buscar os meus filhos à escola. Um desses dias, estava a beber café e descubro que a loja de roupa onde tinha trabalhado há quatro anos, era agora de uma amiga minha. Entretanto ela convidou-me para colaborar com ela na construção de monstras, na seleção de montras, na realização de diretos, etc. Percebi que tinha saudades e acabei por aceitar. O facto de a ter ajudado e até mesmo o vestido de noiva que fiz para uma amiga, fez crescer em mim a vontade de abrir uma loja aqui neste espaço. A chamada “Be Wild”. Abri uma página no Facebook (clique aqui para aceder à página), onde partilho atualmente vários vídeos e fotografias dos vestidos que eu e a Milena recebemos na loja. Temos sido a ajuda uma da outra. E isso é de facto o mais importante.


Cada produto vendido por esta empresária é vendido com amor e bastante dedicação ©Rui Paixão

Considera então que este é um grande desafio?

Eu sinto que sim. Mas um desafio muito bom, porque estou a conseguir conciliar o ensino com a moda. E ter esse privilégio, é de facto muito enriquecedor. O ensino trouxe-me a capacidade de resiliência. Já a moda trouxe-me ainda mais o gosto que tinha por esta área. Por isso, se a minha vida tem estas duas vertentes na minha vida, é de facto porque assim tem de ser.


O que é que a "Be Wild" tem para oferecer a quem vos visita?

A nossa empresa tem essencialmente diferença para oferecer. Em registo de roupas, marcas diferentes, em ousadia, arrojo, etc. Tentamos, eu e a Milena (sócia), ter algo que o mercado de Évora e do Alentejo não têm.

Daí termos o nome "Be Wild". Aqui, nós temos um atendimento personalizado com a pessoa. Gostamos de adequar as tendências do mercado à pessoa. E isso só faz sentido se adequarmos as tendências do mercado da moda, aos nossos clientes. Existe gosto em conversar com o cliente, conhecer os seus gostos, de fazer consultoria de imagem. É sentir que a peça pode fazer a pessoa mostrar o seu verdadeiro eu, a sua verdadeira personalidade.

Podem visitar-nos na Rua Luís José da Costa, nº28, em Évora. Caso queiram entrar em contacto connosco, é só ligarem para o 965 480 608 ou enviar email para be.wild8@outlook.com.


Se tivesse de definir o Alentejo, em que palavras o faria?

Não sou capaz de descrever o Alentejo, sem dizer as palavras saudade e paixão.

A saudade surge, porque a minha família está toda em Celorico de Basto. Eu escolhi estudar, trabalhar, ter filhos e fazer a minha vida aqui em Évora. Por vezes é difícil estarmos a tantas horas e quilómetros de distância, mas lá está, apesar de andar sempre a “correr” de um lado para o outro, as saudades “matam-se” pelo telemóvel e pelas visitas de vez em quando.

A palavra paixão surge pelo facto de eu me ter apaixonado por esta região e até mesmo por um alentejano. Esta é sem dúvida uma zona que apaixona qualquer pessoa que por cá passe. E isso é sem sombra de dúvidas incrível.


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