Rui Santos - O moldar de uma vida
- Rui Paixão
- 18 de jul. de 2022
- 4 min de leitura
Há mais de 45 anos que Rui Santos se senta na roda de oleiro para dar vida a peças que tão bem ilustram a sua dedicação e o seu talento.
O caminho até esta ilustre aldeia, onde quis tentar perceber como tem sido a vida de Rui Santos ao longo de muitos anos nesta área.

Como era a vida de Rui Santos até chegar à Olaria Patalim? Houve alternativas de emprego, ou o barro sempre esteve presente na sua vida?
O barro sempre esteve presente na minha vida. Comecei em miúdo, apesar de na minha família já ser a quinta geração a seguir esta área. Esta olaria foi feita pelo meu trisavô e como desde pequenino que gosto do barro, achei por bem seguir esta área.
E para quem não sabe como é que essas peças são feitas? O que é que é preciso de saber fazer para que possam posteriormente ser comercializadas?
Hoje em dia, já temos maquinas para amassar o barro, rodas elétricas, fornos a gás. Antigamente era tudo muito mais difícil. Tínhamos de ir buscar o barro ao campo, cavar, tínhamos uma roda à qual necessitava de ser pontapeada, fornos a lenha. Nos dias de hoje é tudo muito mais fácil.
E então como é que se processa tudo isto? O barro já vem preparado. É comprado na zona de Leiria, mas nós acabamos por fazer uma nova passagem para ficar com forma cilíndrica e para ser mais fácil de trabalhar na roda. Fazemos as peças e depois de serem feitas, colocamo-las a secar para levarem posteriormente o banho de barro branco que vai ser a base para a pintura.
Se for de verão, a peça demora um dia a secar, mas se for durante o inverno, pode durar semanas, devido à humidade e até ter uma consistência de barro.
Findado o processo de secagem, estas peças são pintadas e são levadas ao forno durante oito horas, a 1000ºC.
Seguido este processo, é preciso esperar durante 24 horas para voltar a abrir as portas do forno. Caso a porta seja aberta mais cedo do que o número de horas estipulado, as peças poderão acabar por rachar.
Quando saem, as peças são colocadas no vidrado, que vai dar brilho à peça. Molham-se as peças e voltam novamente ao forno, onde se volta a repetir novamente o mesmo processo.
Com isso, todo este processo leva, na melhor das hipóteses, uma semana até estar concluído.

E como é que surgiu esta vontade de fazer peças de barro?
Esta vontade surgiu porque causa da família. Tanto o lado materno, como o paterno, eram oleiros. Quando eu era miúdo, ia para a olaria do meu avô materno e do paterno e adorava fazer isto (barro), como qualquer criança gosta de fazer.
Só que depois comecei a aprender e aqui estou, há 45 anos.
Se pudesse voltar cinco anos atrás, o que é que diria ao Rui Santos daquela altura?
Para fazer coisas mais sofisticadas. Nós hoje em dia, apesar de trabalharmos tudo à mão, e é algo que quero manter, podia ter investido mais na empresa para ter outras condições.
E isto é muito prático. Só o facto de todos os dias colocarmos a loiça na rua. Nós agarramos na loiça cheia de loiça e colocamos na rua. E assim repetimos o processo todos os dias, de manhã e ao final do dia. Não temos uma estufa própria, nem lugares específicos, onde possamos colocar as nossas peças. E é nisso que eu já devia ter evoluído há cinco anos, mas ainda não consegui.
Olhando agora cinco anos para a frente, como é que vê o futuro desta olaria?
Para já, vejo nisto uma coisa com futuro. É uma profissão com futuro. Está a ter muita procura a nível de peças. Há pouca gente a querer trabalhar nesta área, mas só o facto de existirem poucas pessoas a trabalhar aqui, as remunerações das mesmas acabam por ser elevadas. Daí eu dizer que é uma profissão com futuro. Quem quiser aprender, vai conseguir fazê-lo.
O que é preciso para ser oleiro?
A primeira coisa é gostar e ter vontade. É estar aqui durante quatro ou cinco anos a aprender. É uma arte nada fácil. Antigamente, para se tornarem mestres demoravam quase cinco anos, e sem receberem nada.
Mas lá está, hoje em dia, quem é a pessoa que deixa de estudar e vem para aqui sem receber dinheiro algum? O que é certo é que na universidade a pessoa paga para lá estar, e aqui ninguém quer trabalhar sem receber.
Estou aqui, por exemplo, com o meu sobrinho que é oleiro. Tem 29 anos e é o oleiro mais novo aqui de São Pedro do Corval. Das 22 olarias que nós temos aqui, temos seis oleiros. Porque de resto, já é tudo mecanizado.

O que é que a olaria Patalim, tem para oferecer a quem lê esta entrevista?
Quem visitar a nossa olaria, pode fazer workshops. Pode meter as "mãos na massa" (por marcação). Pode ver todo o processo das construção das peças, desde a confecção, à pintura, visitar os fornos, a olaria em si.
Depois temos peças tradicionais e peças modernas. Nós tivemos de nos adaptar um pouco, porque as peças mais tradicionais acabaram por deixar de ser tão procuradas e acaba por ficar mais esquecido. Aqui, 99% das peças são de estilo moderno, na qual apenas são só feitos riscos. Por isso, as mais variadas peças modernas fazem parte da nossa olaria e poderão ser encontradas a quem nos visitar.
Se tivesse de definir o Alentejo numa palavra, qual seria?
Paraíso. Porque o Alentejo é uma maravilha. É tranquilo. As paisagens são lindas. Até o nosso céu e o por-do-sol são magníficos.
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